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Referenciais Teóricos

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Há quase meio século, em 1969, o pensador francês Michel Foucault escrevia num dos seus poucos livros, quiçá o único, inteiramente dedicados a pensar os procedimentos teóricometodológicos que adotava em suas pesquisas:

Se substituir a busca das totalidades pela análise da raridade, o tema do fundamento transcendental pela descrição das relações de exterioridade, a busca da origem pela análise dos acúmulos, é ser positivista, pois bem, sou um positivista feliz, concordo facilmente.

Pouco tempo depois, já com a herança de Nietzsche devidamente incorporada ao seu repertório intelectual,   o pensador, na sua célebre aula inaugural no Collège de France, mais tarde publicada sob o título A ordem do discurso, volta à carga: “o humor genealógico será aquele de um positivismo feliz”.  A proposta que daremos a conhecer nas páginas seguintes, parte dela derivada das pesquisas desenvolvidas, inicialmente, por três docentes do Departamento de História da UNESP (Franca) e que resultaram em uns tantos livros e ensaios individuais, e em um banco de dados de acesso público,  inspira-se, em larga medida, nesta sugestão metodológica que Foucault denominou – um modo irônico de dar nome a uma proposta séria – de positivismo feliz.

Dito de maneira um pouco mais precisa, a reflexão pretende propor possibilidades de serialização e análise daqueles documentos históricos convencionalmente classificados como de viés cultural.  A pergunta central que norteará o caminho que queremos explorar é, em linhas muito gerais, a seguinte: sob que condições é possível utilizar registros escritos – um romance, uma narrativa de viagem, um sermão, uma poesia, cartas pessoais, um panegírico fúnebre, uma relação, uma crônica, um tratado jurídico, uma ilustração, etc. – como instrumentos de decodificação de uma época? Derivada dessa primeira, coloca-se uma segunda questão: que lugar a realidade e a representação da realidade ocupam, se é que ocupam, num procedimento desse gênero?

Para sermos objetivos, diríamos que o trabalho que temos desenvolvido, sobretudo depois da constituição do grupo Escritos sobre os novos mundos, vem se amparando, ainda intuitivamente – daí a proposição deste grupo temático –, em duas tradições teóricas comunicantes: uma francesa, derivada sobretudo das obras de pensadores como Michel Foucault e Paul Veyne; e uma outra, ancorada na obra do denominado “segundo Wittgenstein”, contemporaneamente sistematizada pelo pensador norte-americano Richard Rorty.  É verdade que, excetuando Paul Veyne, um historiador de formação, os demais autores podem, à primeira vista, parecer estranhos ao mundo do historiador e inadequados para auxiliarem na composição de um procedimento analítico para a área. Foucault, ainda que presente no universo intelectual do historiador, surge na historiografia brasileira por vezes mesclado com E. P. Thompson  – ou outra linhagem de viés marxista – e, mais recentemente, mediado pela interpretação de Roger Chartier,   interpretação que está longe de ser consensual entre os especialistas e que, no seio da crítica filosófica, é acusada de fazer demasiadas concessões às teorias representacionistas, tão criticadas pelo autor de As palavras e as coisas.   A tradição oriunda de Wittgenstein, embora explorada por Carlo Ginzburg    em alguns de seus estudos e amplamente apropriada por estudiosos conhecidos dos historiadores, como Clifford Geertz, Quentin Skinner e John G. A. Pocock,   para ficarmos nuns nomes mais sonantes, ainda é menos familiar aos historiadores nacionais. Foi, a propósito, esta rara presença na historiografia local, aliada aos resultados alentadores que obtivemos nas pesquisas individuais que temos desenvolvido — inspiradas, direta ou indiretamente, nas tradições mencionadas — que nos levou a conceber este projeto temático, interessado também em explorar as potencialidades analíticas das teorias denominadas não representacionistas – ou, como alguns negativamente costumam referir, pós-modernas –    para a elaboração de uma história dos construtos culturais.

Obviamente, isso não significa que aplicamos ou pretendemos aplicar os conceitos elaborados por tais autores às pesquisas que temos desenvolvido ou desenvolveremos, mesmo porque não há propriamente conceitos estáveis para aplicar em teorias que amparam a construção da realidade nos usos que fazemos da linguagem. Não aplicar teorias foi, a propósito, um cuidado que sempre procuramos tomar quando da elaboração dos trabalhos do grupo. Há neles, sem dúvida, uma opção teórico-metodológica patente na escolha dos objetos de pesquisa, no estatuto que se confere aos documentos de época – sempre séries extensas deles –, naquilo que se destaca nessas séries documentais e, sobretudo, no papel social que atribuímos ao discurso – distante da partilha real-representação. Buscamos, no entanto, não preencher o pouco conhecimento de um objeto e a carência de um ponto de vista para construí-lo com constantes e nem sempre felizes recorrências a modelos explicativos formulados a partir de dados que não são os da história que pesquisamos – um caráter, de certo modo, nominalista conferido aos conceitos utilizados.  O que temos tentado fazer – e pretendemos dar continuidade com mais rigor e sistematicidade a partir da instauração do projeto – é extrair das tradições mencionadas um arcabouço teórico que nos permita, ao mesmo tempo, garantir a necessária coerência epistemológica do nosso trabalho e resguardar a peculiaridade do processo histórico que tentamos analisar.

Ao longo desses ensaios tateantes de uma história da construção cultural de objetos variados, temos adotado menos um método e mais alguns procedimentos de pesquisa, os quais descreveremos sumariamente abaixo, com o intuito de apresentar o arcabouço teórico que tem norteado os trabalhos empíricos desenvolvidos pelo grupo – e que, de certo modo, dão unidade à sua produção. Tal arcabouço, vale ressaltar ainda, será desdobrado ao longo da pesquisa aqui proposta e orientará os futuros estudos dos pesquisadores e estudantes nela envolvidos e, consequentemente, estruturará os produtos que esperamos desenvolver.

Em primeiro lugar, seguindo a recomendação de Foucault, temos abordado os variados “corpus discursivos” (os tais documentos) que trabalhamos como “monumentos”.   Isso significa que procuramos analisá-los não como um conjunto de pistas que, se devidamente interpretadas, seriam capazes de esboçar o rosto de uma época ou uma estrutura atemporal e invariante, nem tampouco como uma tortuosa rede de signos que, de forma dissimulada, revelariam ao leitor astuto os interesses de uma classe ou de um grupo, e menos ainda como um reflexo mais ou menos distorcido de uma suposta realidade. Temos procurado tomá-los, sim, como uma massa de elementos passíveis de serem desmontados, reagrupados, relacionados e, finalmente, organizados em séries. Ao adotar tal postura, tencionamos encontrar não a verdade subjacente à documentação analisada, mas, sim, o processo histórico engendrado por uma determinada sociedade no sentido de construir uma verdade acerca de si própria ou acerca de uma outra sociedade, através da produção sistemática de um conjunto de
escritos.

Nesse “documento” (poesias, relatos de viagem, sermões, crônicas históricas, livros moralizantes, etc.) tomado como “monumento”, temos procurado – ainda seguindo as recomendações de Foucault e Veyne – isolar algumas unidades discursivas passíveis de serem posteriormente agrupadas, inter-relacionadas e postas em contato com outros agrupamentos discursivos, bem como com elementos extra-discursivos.   A essas unidades, como é conhecido, Foucault denominou “enunciados”. Esses, segundo explica-nos o pensador com a sua habitual definição pela negativa, não constituem nem a frase, nem a proposição e nem os speech act dos filósofos da linguagem. O enunciado seria uma espécie de “átomo” do discurso, um elemento que tem um sentido literal, independentemente de outros níveis de interpretação, e que, agrupado a outros da mesma natureza, conformaria – e isso é sobremodo importante – um conjunto regido por certos critérios de verdade.

Uma vez isolado esse conjunto de enunciados regido por certos critérios de verdade, temos buscado detectar, nele e a partir dele, uma teia de relações da qual procuramos extrair: em primeiro lugar, informações intrínsecas aos próprios textos (os objetos construídos, as temáticas renitentes e, sobretudo, os enfoques privilegiados); em segundo lugar, informações sobre as ligações entre o conjunto construído e outros conjuntos, dito de maneira mais clara, ligações entre, por exemplo, os enunciados do discurso religioso ou cronístico e aqueles provenientes do discurso jurídico, histórico, político, etc.; em terceiro lugar, e finalmente, informações sobre as conexões entre o conjunto construído e os acontecimentos não discursivos ou extra-discursivos. Nesta fase do trabalho, temos procurado responder a algumas questões – carentes ainda de maturação, é verdade – que, a nosso ver, são incontornáveis quando se quer utilizar registros escritos de matiz cultural como documentos históricos, a saber: qual o estatuto do escrito analisado na sociedade em que se insere? Quem era e como se situava socialmente quem o escreveu, quem o produziu? O que o leitor de então espera ao ler um escrito desta ou daquela natureza? E, por fim, qual o alcance de tais escritos?

Desses procedimentos sumariamente descritos, decorrem algumas consequências. De um lado, consequências que poderíamos denominar negativas, pois os procedimentos adotados para a abordagem das séries documentais põem em suspenso noções tornadas clássicas pela história das produções culturais, entre as quais a noção de obra, de estilo de época, de contexto, de autoria, de evolução e de influência. Tais noções, extremamente relevantes em outras linhas de abordagens, são, dentro da perspectiva teórica que propomos, suspeitas de anacronismo e não devem funcionar como ponto de partida da pesquisa; somente incluímos tais noções nos trabalhos desenvolvidos pelo grupo quando as reencontramos no discurso dos próprios produtores e receptores dos escritos que analisamos.

De outro lado, consequências positivas, na medida em que os procedimentos apresentados nos permitem escapar de certas posturas comuns no campo que pesquisamos, mas que julgamos pouco explicativas. Primeiramente, permitem-nos evitar a postura sociológica, isto é, evitar aquela postura que condiciona a verdade do discurso à verdade dos acontecimentos extra-discursivos.    Em segundo lugar, escapar à postura imanentista, que parte do pressuposto de que se pode extrair uma verdade do documento, pondo de lado, ou transformando em epifenômeno, a riqueza dos acontecimentos extra-discursivos que o rodeiam.   Nem sociologização, nem análise imanentista, pois o que nos interessa é uma abordagem das séries documentais que possa restituir a riqueza do mundo em que ele foi produzido e que ajudou a produzir – informando sobre as suas condições de possibilidade e o seu papel na construção de uma dada realidade numa determinada época –, sem deixar de lado um estudo do próprio documento.

Para concluir essas considerações, gostaríamos ainda de acrescentar mais duas ou três implicações decorrentes do uso que temos feito das séries documentais, de modo que não pairem dúvidas acerca do lugar de onde as interrogamos. De saída, é preciso deixar claro que a história traçada sob orientação de tais procedimentos é, na maior parte das vezes, uma história da construção da ordem, melhor, da construção de padrões, de lugares comuns, de ideias naturalizadas em verdades. Isso não significa que ela não contemple aquilo que se costuma rotular ora como diferença,    ora como ponto de resistência   ora ainda, mais sociologicamente falando, como desvio.     Ela o faz, mas somente para explicitar como o processo de formação de uma dada organização social, de um dado padrão, se utiliza de tais “fugas do padrão” para firmar uma norma. Desse modo, as ditas diferenças, malgrado a sua importância em qualquer sociedade que se analise, aparecerão sempre nos corpos das pesquisas que desenvolvemos como epifenômenos.   Trata-se, na verdade, de uma opção, uma opção por descrever a visão que homens letrados tinham da realidade que os circundava. Mais precisamente, já que não se pretende aqui defender nenhuma tese realista,  descrever como determinados grupos construíram a sua realidade, forjaram os seus valores, edificaram os seus mitos, estabeleceram seus hábitos, desenvolveram e definiram a sua moral, inventaram o seu passado e até mesmo demarcaram quais eram as condutas desviantes no seio das sociedades que ajudavam a construir. Não se quer com isso dizer que compartilhamos da ilusão da objetividade, isto é, que acreditamos ser possível reconstituir com fidelidade, imparcialidade e completude a visão que os homens de uma determinada época têm sobre si próprios e sobre suas ações. Longe disso. Que o conhecimento histórico é sempre lacunar e parcial, que de uma época não é possível conhecer senão um conjunto limitado de perspectivas, que aquele que descreve sempre imprime a sua marca aos elementos descritos, são teses com as quais estamos de pleno acordo.

Outro ponto que requer atenção especial é aquele relacionado à natureza dos trabalhos que, numa versão preliminar do grupo temático que propomos, temos produzido. Embora, por vezes, situados no campo da denominada história cultural, tais trabalhos não adotam alguns procedimentos comuns às pesquisas desse gênero. Ela abre mão, por exemplo, de todo e qualquer juízo de tipo valorativo, ou seja, ela não leva a cabo uma crítica de viés estilístico das obras e não tem a pretensão de classificar ou avaliar os autores abordados, de distingui-los por sua qualidade estética. Além disso, ela não se dedica a uma análise intrínseca das obras, no sentido que a entendem, por exemplo, as análises amparadas num esquadrinhamento dos mecanismos textuais e narrativos dos documentos abordados. Nunca é demais lembrar que o objetivo dos estudos que temos desenvolvido, a partir desse ainda embrionário conjunto de procedimentos, sempre busca restituir a voz àqueles que produziram ou consumiram os escritos sobre os quais nos debruçamos. Assim, ao abordar tais escritos, limitamo-nos a apresentar as reflexões sobre o assunto desenvolvidas pelos autores, pelos críticos ou pelos leitores da época. Interessa-nos muito pouco responder a questões como: o que é a cronística, a sermonística, a literatura de viagens ou o romance; tampouco nos interessa estabelecer, por exemplo, o que é a cronística colonial de qualidade, ou o quantum de realismo contém uma narrativa de viagem ou, ainda, qual a inteligência política contida nos escritos de um determinado período, malgrado a consciência dos seus produtores. As questões que nos instigam são de outro gênero e podem ser assim formuladas: o que é uma narrativa de viagem, ou uma crônica, ou uma poesia ou um escrito jesuítico sobre a escravidão para os séculos que os produziram? Como os homens que escreviam e publicavam em determinado período encaravam a sua atividade? Quais eram os quesitos que uma obra deveria apresentar para ser julgada como de qualidade, ou legítima, ou verdadeira por esses mesmos homens? E, ainda, como a sociedade da época absorvia as obras então produzidas? Trata-se, como se vê, de trabalhos essencialmente históricos e descritivos, distantes, pois, daqueles que associam conhecimento e interesse, representação e realidade, atos de linguagem e racionalidade política, ou autor e obra; associações pertinentes em outros tipos de histórias das produções escritas, diversos do que propomos.

Depois de desenvolver, ainda de maneira tateante, como mencionamos, algumas pesquisas amparadas por tais procedimentos, o núcleo inicial do grupo Escritos sobre os novos mundos deparou com uma série de possibilidades que, para serem devidamente exploradas, exigiam mudanças e ampliações nas metas que havíamos colocado inicialmente. Em primeiro lugar, havia necessidade de estender ligeiramente o grupo inicial, ampliá-lo não necessariamente incorporando pesquisadores que compartilhassem inteiramente dos procedimentos teórico-metodológicos acima expostos, mas que trabalhassem com séries documentais e com a busca de padrões, de regularidades; e, sobretudo, que desenvolvessem pesquisas interessadas em mapear diferentes aspectos do processo de construção de valores morais nas sociedades portuguesa e brasileira.

Em segundo lugar, parecia-nos imprescindível dar prosseguimento, com ligeiras correções de rumo e ampliações, aos bancos de dados que estávamos desenvolvendo – intimamente relacionados às pesquisas com séries documentais. Não obstante a sua natureza pública (unesp.br/escritos), os três bancos de dados que montamos nasceram das necessidades impostas pelas pesquisas individuais dos membros do grupo, necessidades advindas especialmente dos métodos e perspectivas teóricas que adotamos, as quais impunham a serialização de documentos – a montagem de longas séries documentais – e a possibilidade de encontrar nelas padrões, regularidades. Todavia, uma vez montadas, as bases ganharam uma dimensão inesperada, pois cedo constatamos que, para além de atender às necessidades dos pesquisadores do grupo, as bases poderiam, dado justamente o seu caráter público e variado, se tornar um facilitador de pesquisas, franqueando aos estudiosos e interessados o acesso a obras raras e a dicionários bibliográficos, muitas vezes difíceis de serem localizados, consultados e, sobretudo, copiados. O êxito das três bases iniciais estimulou, então, o plano de criação de novas bases e resolvemos incorporar, guardando a coerência interna do que vínhamos desenvolvendo, duas novas bases, uma relativa aos séculos XIX e XX (a primeira metade), e outra relativa à iconografia medieval (séculos XIII e XIV), bases provenientes dos trabalhos de duas pesquisadoras que também se depararam, nos seus estudos individuais, com a necessidade de criar séries documentais.

Em terceiro lugar, mostrou-se necessário verticalizar os estudos teóricos e metodológicos que vinham sustentando, de maneira ainda um pouco incipiente, os trabalhos do grupo Escritos sobre os novos mundos. Para tal, optamos por um duplo caminho: de saída, atrair para o grupo pesquisadores de outras IES que estivessem, em suas pesquisas, envolvidos com os problemas decorrentes da organização de séries documentais. Para dar consistência a esse primeiro movimento, prepararemos uma série de atividades (seminários, reuniões, palestras, publicações, etc.) destinadas a aprofundar os estudos acerca da perspectiva teórica acima enunciada.

Notas

   FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitário, 1986, p. 144.

   Acerca da presença de Nietzsche na denominada “segunda fase” do pensamento de Foucault, ver: DREYFUS, Hubert; RANINOW, Paul. Michel Foucault: un parcours philosophique. Paris: Éditions Gallimard, 1984; DELEUZE, Gilles. Foucault. Paris, Ed. de Minuit, 1986.

   FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. Lisboa: Relógio D’água Editores, 1997, p. 51.

 

   FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Viajantes estrangeiros no Rio de Janeiro Joanino (1809-1818). 1. ed. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2013. v. 1. 176 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. A construção do Brasil na Literatura de viagem dos séculos XVI, XVII e XVIII. 1. ed. Rio de Janeiro; São Paulo: José Olympio Editora; Editora da Unesp, 2012. v. 1. 616 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho; RAMINELLI, Ronald. Andanças pelo Brasil Colonial. 1. ed. São Paulo: Editora da UNESP, 2009. v. 1. 216 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Mulheres Viajantes no Brasil (1773-1820). 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2008. v. 1. 98 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Diário de uma viagem da Baía de Botafogo ao sul do Brasil (1810), de William Henry May. 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2006. v. 1. 97 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Outras Visões do Rio de Janeiro Colonial. Antologia de Textos (1581-1808). 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000. v. 1. 238 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Visões do Rio de Janeiro Colonial. Antologia de Textos (1531-1800). 1. ed. Rio de Janeiro: EDUERJ; José Olympio, 1999. v. 1. 272 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Literatura e Sociedade No Rio de Janeiro Oitocentista. 1. ed. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1999. v. 1. 268 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Imagens do Negro Na Literatura Brasileira. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. v. 1. 99 p.; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho; FERREIRA, Ricardo Alexandre. ROCHA, Manuel Ribeiro. Etíope resgatado, empenhado, sustentado, corrigido, instruído e libertado. (Edição crítica). (No Prelo). 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio/ Editora UNESP, 2013. v. 1. 200 p. FRANÇA, Jean Marcel Carvalho; FERREIRA, Ricardo Alexandre. Três vezes Zumbi: a construção de um herói brasileiro. 1. ed. São Paulo: Publifolha; Três Estrelas, 2012. 167 p.; FERREIRA, Ricardo Alexandre. Crimes em comum: escravidão e liberdade sob a pena do Estado Imperial brasileiro. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2011. 262 p.; FRANÇA, Susani Silveira Lemos. Viagens de Jean de Mandeville. 1. ed. Bauru: EDUSC, 2007. v. 1. 266 p.; FRANÇA, Susani Silveira Lemos. Mulheres dos outros. Os viajantes cristãos e as mulheres do oriente (XIII-XV). São Paulo: Editora UNESP, 2013 (No Prelo). Os bancos de dados criados pelo grupo podem ser consultados no “site” unesp.br/escritos.

   As possibilidades de criar séries de documentos e encontrar aí padrões de construção da verdade, ideia cara às pesquisas do grupo, surgiu, em larga medida, das sugestões colhidas em autores como Lucien Febvre e Michel Foucault, sobretudo nas obras: FEBVRE, Lucien. A new kind of history from the writings of Febvre. London: Routledge and Kegan Paul, 1973. FEBVRE, Lucien. Olhares sobre a história. Lisboa: Edições Asa, 1996, 128 p. FEBVRE, Lucien. Combates pela história: Lisboa: Editorial Presença, 1986, 264 p. FEBVRE, Lucien. O problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso.

 

   As obras dos autores citados – e de alguns de seus respectivos comentadores – nortearão os seminários do grupo.

 

   Ilustrativo de tal cruzamento são os estudos da historiadora Margareth Rago, cuja posição está exemplarmente exposta em obras como: RAGO, Margareth. O efeito-Foucault na historiografia brasileira. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP, 1995, p. 67-82. RAGO, Margareth (Org.); VEIGA NETO, A. (Org.). Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. 295 p. RAGO, Margareth; VEIGA NETO, A. Foucault: Para uma vida não fascista. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

 

   Acerca da estranha – do ponto de vista da coerência interna das teorias – mistura promovida por Chartier entre o pensamento de Foucault e de Pierre Bourdieu, ver: CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.

 

   Para uma discussão acerca da crítica de Foucault às teorias “modernas” da representação e da solução que propõe para o problema – uma construção da realidade, regulada por critérios de verdade partilhados socialmente –, ver: DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul. Michel Foucault: un parcours philosophique. DELEUZE, Gilles. Foucault.

 

    É conhecida a dívida dos estudos de Carlo Ginzburg, desde o seu História noturna: decifrando o sabá (São Paulo: Companhia das Letras, 1991), com o pensamento do segundo Wittgenstein.

 

    É bastante significativo o impacto que tiveram na historiografia brasileira obras como, As fundações do pensamento político moderno (São Paulo: Companhia das Letras, 1996), de Quentin Skinner, Linguagens do ideário político (São Paulo: EDUSP, 2003), de John G. A. Pocock, e A interpretação das culturas (1. ed. 13. reimpressão. Rio de Janeiro: LTC, 2008), de Clifford Geertz, os dois primeiros herdeiros da filosofia da linguagem (uma variante da dita segunda fase do pensamento de Wittgenstein), e o último, um etnometodólogo também com forte influência wittgensteiniana.

 

    Isso se entendermos por pensamentos pós-modernos aqueles pensamentos não fundados e não representacionistas – como explica Richard Rorty, no seu Contingência, Ironia e Solidariedade (Lisboa: Presença, 1994) –, que encontram a sua origem contemporânea na obra de F. Nietzsche.

 

    Optamos, sem dúvida, pela sugestão de Foucault de “substituir […] o tema do fundamento transcendental pela descrição das relações de exterioridade […]”, das séries. Cf. A Arqueologia do Saber, p. 144

 

    FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber, p. 6-9.

 

    É notório, aqui, que recorremos a uma dupla sugestão teórica (bastante aparentadas): de um lado – a mais evidente –, aquela que remete à obra de Michel Foucault e à sua genealogia da verdade; de outro, e complementarmente, a uma outra que vem de Wittgenstein e dos seus jogos de linguagem e concomitantes formas de vida (Investigações Filosóficas. Tradução portuguesa de M. S. Lourenço. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987).

 

    Ver, sobretudo, VEYNE, Paul. Foucault revoluciona a história. In: Como se escreve a História. Brasília: Editora da UnB, 1982. VEYNE, Paul. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Tradução Marcelo Jacques de Morais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão. Tradução de. Marcos de Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

 

    FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber, p. 87-152.

    Acerca da longa tradição sociológica, sobretudo aquela que parte de uma relação de determinação entre conhecimento e interesse, que tão fortemente tem marcado o pensamento historiográfico brasileiro, ver: GRAMSCI, Antônio. Obras escolhidas. São Paulo: Martins Fontes, 1978; LUCÁKS, George. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas da grande épica. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000; HABERMAS, Jürgen. Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982; BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998; PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. São Paulo: EDUSC, 1992.

 

    Para além das tradições estruturalista e hermenêutica clássicas (sobretudo Lévi-Strauss e Paul Ricoeur), que deixaram marcas notáveis na produção historiográfica brasileira, é indispensável mencionar, ainda, os estudos de Hayden White, Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura (São Paulo: Edusp, 1994), e Dominick Lacapra, Rethinking intellectual history: texts, contexts, language (Ithaca: Cornell University Press, 1983), que têm inspirado não poucas pesquisas nacionais.

    DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1998; DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

 

    CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, 2v.; THOMPSON, Edward P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

 

    MERTON, Robert K. Sociologia: teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

 

    A abordagem do desvio como um dos pontos de apoio para o estabelecimento da norma, ver: FOUCAULT, Michel. Les Anormaux, Paris, Gallimard, 1999; FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 28. ed., Petrópolis: Vozes, 2004; e FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU, 2003.

 

    A crítica às teorias realistas está exemplarmente desenvolvida em: RORTY, Richard. Objetivismo, relativismo e verdade. Escritos Filosóficos I. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997; e ENGEL, Pascal; RORTY, Richard. Para que serve a verdade? São Paulo: Editora UNESP, 2008.

 

    Trata-se, aqui, quase de uma repetição das recomendações que Paul Veyne dá aos historiadores em obras publicadas ao longo de toda a sua trajetória intelectual: de maneira explícita e metódica em Como se escreve a História, por exemplo, e de maneira subliminar no seu relativamente recente “estudo empírico” .

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